sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Clínica de Lagoa fez mais um cego

Aumentou para cinco o número de pessoas que se queixam de terem perdido a visão após operação na clínica I-QMED, em Lagoa. Agora é um cidadão holandês que acusa de negligência o oftalmologista Franciscus Versteeg, que está em parte incerta.
Versteeg é dono da clínica I-QMED, que foi encerrada no ano passado após três cidadãos portugueses e um inglês terem ficado cegos na sequência de intervenções cirúrgicas lideradas pelo clínico holandês.
Ronald Rietbroek, 53 anos, garante ter perdido praticamente a visão dos dois olhos depois de uma operação a que foi sujeito na clínica I-QMED e junta-se agora aos portugueses na queixa contra o médico. «Tinha astigmatismo e miopia. Agora deixei de ver quase na totalidade», afirmou Ronald ao SOL.
Advogado confirma novo caso
O advogado das vítimas portuguesas, António Vilar, confirmou ao SOL a queixa de Rietbroek. «Tal como os meus outros três clientes, também ele se encontra invisual, e quer que se faça justiça», afirmou o causídico.
Este caso remonta a Março de 2009. Ronald estava de férias em Portugal quando aceitou submeter-se à cirurgia. À partida parecia tudo muito simples. E o facto de o médico ser um seu compatriota dava-lhe confiança. Não havia barreiras linguísticas e a comunicação fluía naturalmente.
Rietbroek entrou na clínica bem-disposto e optimista. «Franciscus Versteeg garantiu-me que o procedimento era simples, rápido e não oferecia quaisquer problemas», relembra.
Mas quando teve alta estava a agonizar com dores. «Fui operado numa quarta-feira e o médico disse-me para ficar na clínica até domingo porque me queria ver no sábado. Mas na sexta-feira de manhã desapareceu e nunca mais o vi», continua.
De regresso a Eibergen, Holanda, e desesperado, Ronald Rietbroek marcou logo uma consulta no seu médico de família.
Situação é irreversível
Depois disso, já foi visto por oito especialistas. «Todos me dizem que não há nada a fazer. A situação é irreversível», lamenta. E acrescenta: «Era motorista de camiões e tive de deixar de trabalhar. Não vejo absolutamente nada no escuro e de dia não posso fixar com nitidez uma única imagem. Nem consigo ler».
Dois anos depois da sua intervenção, Rietbroek ouviu falar das vítimas portuguesas. Contactou de imediato o advogado António Vilar. «O meu cliente pretende que se faça uma reparação dos danos que sofreu e que o afectam diariamente. Este tipo de situações tem impactos gravíssimos na vida das pessoas», explica o advogado algarvio.
Mas o caso de Ronald pode demorar muito tempo até ficar resolvido. Para já, António Vilar tem de aguardar a abertura dos tribunais, em Setembro, para entrar com um processo-crime ou cível contra Franciscus Versteeg. Depois, o facto de todos os relatórios clínicos da vítima estarem escritos em holandês ou inglês exige uma tradução legal.
Em Portugal, essas traduções podem levar muito tempo a serem efectuadas. «Isto faz com que o processo atrase imenso. São questões burocráticas que não podem ser ultrapassadas e que fazem com que as coisas se arrastem por tempo indefinido», lamenta Vilar.
De qualquer forma, fonte da Procuradoria Geral da República garantiu ao SOL que todas as traduções exigidas no processo aberto contra Franciscus Versteeg estão finalmente a ser efectuadas. «O processo vai ter a sua durabilidade normal. Não vai levar nem mais, nem menos tempo. Inclusivamente já estamos a terminar a tradução da carta rogatória que poderá conduzir à notificação do médico Franciscus Versteeg», assegura a mesma fonte.
António Vilar não está tão confiante: «Nunca há verbas para se pagar a um tradutor. Mas espero estar enganado».
Entretanto, e para complicar ainda mais todo o processo, uma fonte do Ministério Público adiantou ao SOL que o paradeiro do oftalmologista parece ser um mistério. «Disseram-nos que ele regressou à Holanda. Temos uma morada mas nada nos garante que esteja válida ou que ele esteja mesmo a residir lá. Esperemos que sim».
Acção contra o Estado português
O advogado António Vilar recusa cruzar os braços e vai entrar com uma acção cível contra o Estado português por ter permitido que a clínica I-QMED estivesse aberta ao público durante mais de sete anos. «Essa acção está pronta. O sr. Franciscus Versteeg não tinha licença para exercer em Portugal. Isto vai contra a liberdade do exercício da profissão. Ele é médico e pode exercer Medicina. Mas não sem as condições exigidas pela lei portuguesa».
Franciscus Versteeg está a ser investigado pelo Ministério Público por suspeitas da prática de um crime de ofensa grave. As vítimas do médico holandês interpuseram também uma acção cível com vista a serem indemnizadas por danos decorrentes de acto ilícito.

Fonte: aqui

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