sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Negligência - Erros médicos que acabam sem cura

"Quem a sofre diz nunca haver justiça, mesmo se o tribunal demora mas atribui uma indemnização. Lesões definitivas ou a vida de um filho não se reparam. Os clínicos protegem-se uns aos outros e raramente são levados à justiça. Mas há cada vez mais queixas e investigações.

"A Sancha teve o azar de sobreviver no dia em que nasceu." Já passaram seis anos desde que a filha morreu, mas para Paula Zoio parece que foi ontem. O calvário em que se transformou a sua vida permitiu-lhe criar esta carapaça emocional: mais valia que Sancha tivesse morrido, ali, à nascença, quando um médico empatou horas, prolongando a agonia do parto, provocando danos que tornaram a existência da criança semelhante à de um vegetal. Sancha não via, não falava, não andava.

"Quando olhava para a minha filha, via olhos de sofrimento, via que tentava comunicar e pedir ajuda, mas não conseguia...", recorda. Tudo terminou naquele dia de 2005 quando os órgãos de Sancha faliram. Paula sofreu, chorou, mas aquela carapaça voltou a ajudá-la: "Senti um alívio..." Pela sua vida de exaustão, mas também por Sancha. Porém, o seu calvário estava longe do fim. Agora arrasta-se nos tribunais. Há dez anos. Pelo meio, Paula sofreu outras perdas irreparáveis - de um dia para o outro teve de enterrar o marido, até então um pilar sempre a seu lado. O que a "salvou" do fundo do poço foi o nascimento do filho, João, hoje com nove anos. "Nasceu de cesariana e tudo correu muito bem", conta.

Dos tribunais, não quer o dinheiro, apenas encerrar este capítulo da vida. Paula deu à luz a filha com paralisia cerebral por "atrasos na assistência do parto" e pela "vergonhosa omissão do médico assistente" no Hospital São Francisco Xavier (HSFX), em Lisboa. Hoje, 12 anos volvidos, chora ainda "um trajecto de vida cortado".

Foi no dia 11 de Abril de 2001 que o advogado da mãe de Sancha, João Medeiros, interpôs uma acção de responsabilidade civil contra o hospital por "actuação tardia e responsabilidade por omissão", como o próprio explica ao DN. Um atraso em que as justificações concretas faltam. "Em 2007 foi-nos dado conta do excesso de serviço e da falta de funcionários da 6.ª Unidade orgânica do Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa", diz o advogado.

Para a mãe, "a morte dela foi no dia em que nasceu". Vidas interrompidas, trajectos planeados que não chegaram a ver a luz do dia. A raiva pela justiça, que não apresenta respostas, faz de Paula uma mulher amargurada e sem força para viver. "Bati no fundo e questiono- -me porquê. Porque é que nada acontece neste país?""

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